quinta-feira, 27 de março de 2014

Não quero ver morrer o Parque da Cidade

O atual governo do Distrito Federal contribui para acabar com um espaço histórico do brasiliense: o site do GDF noticia que está em andamento obra para abrir novo acesso de veículos (a sexta entrada, calculo eu) ao Parque da Cidade, na altura da 912/913 sul, onde ficam, entre outros, os colégios Olimpo e Sigma (particulares e de classe média alta). A intenção alegada pelo governo é desafogar o trânsito no local. Mas o que vemos é uma obra voltada para atender os pais (influentes) dos alunos dessas escolas.

E qual vai ser a consequência? A obra, é claro, vai incentivar um aumento significativo no fluxo de carros na região, que já não é pequeno. Ou seja, mais uma obra que incentiva a utilização de veículos automotores individuais. O Parque é cada vez menos um parque, cada vez mais uma avenida de ligação arborizada.

Com muita satisfação, vi nascer o Parque da Cidade, em 1978. Não queria testemunhar sua morte.


Eu já ensaiava meus primeiros pedais pela Asa Sul do Plano Piloto (se não me engano numa Peugeot speed de 10 marchas) quando o Parque da Cidade dona Sarah Kubitschek foi inaugurado, inicialmente com o nome de Rogério Pithon Farias. Pelo menos à época, foi apresentado como o maior parque urbano no mundo, com 4,2 quilômetros quadrados.

Idealizado como um espaço para lazer, conta com parquinhos, quadras de esportes, parque de diversões, centro hípico, churrasqueiras, restaurantes, pista de kart e pista para cooper e ciclismo. No início, contava com uma piscina com ondas artificiais, bastante concorrida. Se não me engano, tinha à época apenas três entradas para veículos.

O parque, como espaço de lazer, é um patrimônio de Brasília. Mais do que isso: é um patrimônio de todos os brasilienses. Um belo espaço, amplo, arborizado, democrático.

Mas infelizmente, governos incompetentes que se sucedem estão desvirtuando o projeto inicial, e fazendo do nosso Parque da Cidade apenas mais um ponto de passagem, uma grande avenida de acesso ao centro da cidade, para resolver o problema do trânsito que só se agrava na cidade, já que nunca se investiu em mobilidade urbana por essas bandas.

Já há muito, principalmente nos horários de pico, o que se vê dentro do parque é um trânsito enorme, seja em direção ao centro – por volta das oito da manhã e duas da tarde –, seja no sentido inverso, ao meio dia e a partir das 18 horas.

Mais carros, mais poluição, mais estresses, mais assaltos, mais violência. Cada vez mais, o parque é um lugar inseguro. Para nós, ciclistas, cada vez mais o parque fica perigoso. No seu interior, os assaltos são frequentes. Na pista externa, o trânsito cada vez mais intenso e a ausência de acostamento fazem a via cada vez mais intrafegável.

E o GDF tem o descaramento de chamar isso de revitalização do Parque da Cidade!

Fico imaginando o que mais de pior podem fazer com nosso parque, sob o manto da "revitalização": vislumbro a permissão para o trânsito de ônibus e caminhões, a abertura de vias cortando ao meio a área verde do parque e, como golpe de misericórdia, a derrubada da cerca que contorna todo a área.

Com 36 anos de vida, o parque, criado pela mão do homem, já sofre com a ação do próprio homem.

O Parque da Cidade fez e faz parte da minha vida cotidiana.

Não, não quero ver morrer o Parque da Cidade.

(mais uma vez, agradeço o alerta ao colega Uirá Lourenço)

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